Sentimentos diferentes, pensamentos iguais



O pensamento de ambas as equipas é só um: vencer! Mas, de facto, dá gosto ver a forma como os jogadores da selecção nacional de rugby sentem o nosso hino e transmitem esse mesmo sentimento de uma forma arrepiante! Deixo aqui este vídeo para realçar o meu orgulho na forma como o hino é cantado pelos lobos. Gostaria que um dia isto pudesse acontecer também na nossa selecção de futebol. Eu sei que o desporto é diferente e a intensidade por sua vez também o é, mas, sinceramente, era algo que me daria imenso prazer observar!

Zinedine Zidane, o melhor de todos



Antes deste dia terminar, 10/10/10, é altura para fazer uma referência ao melhor número 10 de todos os tempos! Zizou, o cientista do desporto rei, é uma referência para todo o mundo do futebol e foi o futebolista que mais me fascinou dentro de um relvado, a sua capacidade para driblar os adversários num tão curto espaço do terreno era a sua melhor qualidade. Não tinha ar de artista da bola, nem de perto nem de longe, mas isso é o que menos importa, até hoje como ele não vi mais ninguém! Quando a bola chegava aos seus pés já tudo estava bem idealizado na sua cabeça. Só assim se consegue fazer o que ele fazia. Uma agressão numa final de um Mundial só é facilmente esquecida quando o talento é sobrenatural, jogadores com a classe de Zidane foram poucos, ou melhor, nenhum!

Dois casos diferentes de evolução

Quando um treinador tem qualidade transforma os seus jogadores em prol do colectivo

João Moutinho e Carlos Martins foram titulares neste último jogo da nossa selecção e são, fundamentalmente, jogadores diferentes se quisermos comparar com um passado recente! O primeiro que joga agora de Dragão ao peito tem 24 anos, mas a sua maturidade dentro de campo é algo impressionante. André Villas-Boas potenciou todo o seu talento, dando-lhe motivação e, acima de tudo, especializando-o numa só posição. No Sporting, este jovem jogador era uma espécie de todo o terreno que, caso fosse necessário, desempenhava qualquer função e aos 90 minutos de jogo era capaz de fazer um sprint até à sua área para tentar o desarme. Felizmente para ele, neste momento, nota-se perfeitamente que houve uma evolução nesse mesmo capítulo e João Moutinho, mesmo recuperando imensas bolas como é bem evidente, já consegue gerir muito melhor o seu esforço, podendo assim dar muito mais à sua equipa em todos os momentos do jogo! A sua qualidade no passe, é raríssimo vermos Moutinho falhar um passe, e toda a sua excelente cobertura dos espaços saltam de imediato à vista de todos e até eu que nunca fui grande fã deste jogador tenho agora que lhe dar mérito – trata-se assim de um caso de especialização e, portanto, de evolução!

Já Carlos Martins é, claramente, um caso diferente. Não por jogar de vermelho e branco, mas sim porque o seu problema assenta noutro prisma, prisma esse que faz parte da sua personalidade. A agressividade do seu jogo, por vezes, prejudicava-o imenso e o seu temperamento levou-o ao insucesso em algumas épocas no passado. Mas agora com Jorge Jesus como seu treinador, este aspecto parece ter sido ofuscado por toda a sua qualidade e, para o bem do futebol nacional, esperemos que tudo continue assim! O seu remate colocado e fortíssimo e toda a sua garra dentro de campo, que, quer se queira quer não, envolve toda a equipa e consegue catapultá-la nos momentos mais complicados, são os pontos fortes do médio português que parece ter "acordado" com o seu novo técnico! E já que toquei neste ponto, não posso terminar sem deixar de destacar a importância que Jorge Jesus teve e tem no desenvolvimento individual dos jogadores. Dí María, Fábio Coentrão, David Luiz e Carlos Martins são quatro grandes exemplos desse mesmo papel importantíssimo do treinador português de 56 anos. O talento destes quatro futebolistas já estava presente como é óbvio, mas era necessário alguém inteligente com a chave correcta para lhes poder abrir a porta do sucesso!

José Mourinho não se esquece!


José Mourinho enviou uma carta à Selecção Nacional onde pede empenho aos jogadores e apoio por parte de todos os portugueses! Penso que faz todo o sentido citá-la aqui, pois não são todos os dias que podem ser lidas palavras tão sábias e sentidas por parte do melhor treinador do Mundo. Então aqui vai:

Sou português há 47 anos e treinador de futebol há dez. Sendo assim, sou mais português do que treinador. Posto isto, para que não restassem dúvidas, vamos ao que importa...

As Selecções Nacionais não são espaços de afirmação pessoal, mas sim de afirmação de um País e, por isso, devem ser um espaço de profunda emoção colectiva, de empatia, de união. Aqui, nas selecções, os jogadores não são apenas profissionais de futebol, os jogadores são além disso portugueses comuns que, por jogarem melhor que os portugueses empregados bancários, taxistas, políticos, professores, pescadores ou agricultores, foram escolhidos para lutarem por Portugal. E quando estes eleitos a quem Deus deu um talento se juntam para jogar por Portugal, devem faze-lo a pensar naquilo que são - não simplesmente profissionais de futebol (esses são os que jogam nos clubes), mas, além disso, portugueses comuns que vão fazer aquilo que outros não podem fazer, isto é, defender Portugal, a sua auto estima, a sua alegria. Obviamente há coisas na sociedade portuguesa incomparavelmente muito mais importantes que o futebol, que uma vitória ou uma derrota, que uma qualificação ou não para um Europeu ou um Mundial. Mas os portugueses que vão jogar por Portugal - repito, não gosto de lhes chamar jogadores - têm de saber para onde vão, ao que vão, porque vão e o que se espera deles.

Por isso, quando a Federação Portuguesa de Futebol me contactou para ser treinador nacional, aquilo que senti em minha casa foi orgulho; do que me lembrei foi das centenas e centenas de pessoas que, no período de férias, me abordam para me dizerem quanto desejam que eu assuma este cargo. Isto levou-me, pela primeira vez na minha vida profissional, a decidir de uma forma emocional e não racional, abandonando, ainda que temporariamente, um projecto de carreira que me levou até onde me levou. Desculpem a linguagem, mas a verdade é que pensei: Que se lixem as consequências negativas e as críticas se não ganhar; que se lixe o facto de não ter tempo para treinar e implementar o futebol que me tem levado ao sucesso; por Portugal, eu vou! E é isto que eu quero dizer aos eleitos para jogar por Portugal: aí, não se passeia prestigio; aí, não se vai para levar ou retirar dividendos; aí, quem vai, vai para dar; aí, há que ir de alma e coração; aí, não há individualidades nem individualismos; aí, há portugueses que ou vencem ou perdem, mas de pé; aí, não há azias por jogar ou por ir para o banco; aí, só há espaço para se sentir orgulho e se ter atitude positiva.

Por um par de dias senti-me e pensei como treinador de Portugal. E gostei. Mas tenho que reconhecer que o Real Madrid é uma instituição gigante, que me «comprou» ao Inter, que me paga, e que não pode correr riscos perante os seus sócios e adeptos. Permitir que o seu treinador, ainda que por uns dias, saísse do seu habitat de trabalho e dividisse a sua concentração e as suas capacidades era impensável. Creio, por conseguinte, que o feedback que saiu de Madrid e chegou à Federação levou a que se anulasse a reunião e não se formalizasse o pedido da minha colaboração. Para tristeza minha e frustração do presidente Gilberto Madail. Mas, sublinho, agora já a frio: foi e é uma decisão fácil de entender. Estou ao leme de uma nau gigantesca, que não se pode nem se deve abandonar por um minuto. O Real decidiu bem. Fiquei com o travo amargo de não ter podido ajudar a Selecção, mas fico com a tranquilidade óbvia de quem percebe que tem nas suas mãos um dos trabalhos mais prestigiados no mundo do futebol. Agora, Portugal tem um treinador e ele deve ser olhado por todos como «o nosso treinador» e «o melhor» até ao dia em que deixar de ser «o nosso treinador». Esta parece-me uma máxima exemplar: o meu é o melhor! Pois bem, se o nosso é Paulo Bento, Paulo Bento é o melhor.

Como português, do Paulo espero independência, capacidade de decisão, organização, modelagem das estruturas de apoio, mobilização forte, fonte de motivação e, naturalmente, coerência na construção de um modelo de equipa adaptada as características dos portugueses que estão à sua disposição. Sinceramente, acho que o Paulo tem condições para desenvolver tudo isso e para tal terá sempre o meu apoio. Se ele ganhar, eu, português, ganho; se ele perder, eu, português, perderei. Mas eu também quero ganhar. No último encontro de treinadores que disputam a Champions League, quando questionado sobre o poder dos treinadores nos clubes, ou a perda de poder dos treinadores face ao novo mundo do futebol, sir Alex Fergusson disse (e não havia ninguém com mais autoridade do que ele para o dizer!) que o poder e a liderança dos treinadores depende da personalidade dos mesmos, mas que depende muitíssimo das estruturas que os rodeiam. Clubes e dirigentes fragilizam ou solidificam treinadores. Eu transponho estas sábias palavras para a selecção nacional: todos, mas todos, neste país devem fazer do treinador da selecção um homem forte e protegido. E quando digo todos, refiro-me a dirigentes associativos, federativos e de clubes, passando pelos jogadores convocados e pelos não convocados, continuando pelos que trabalham na comunicação social e terminando nos taxistas, políticos, pescadores, policias, metalúrgicos, etc. Todos temos de estar unidos e ganhar. E se perdermos, que seja de pé! Mas, repito, há coisas incomparavelmente mais importantes neste país que o futebol. Incomparavelmente mais importantes¿ Infelizmente! Aproveito esta oportunidade para desejar a todos os treinadores portugueses, aos que estão em Portugal e aos muitos que já trabalham em tantos países de diferentes continentes, uma época com poucas tristezas e muitas alegrias.

Ao Xico Silveira Ramos, manifesto-lhe a minha confiança no seu cargo de Presidente da ANTF.

Um abraço a todos,

José Mourinho